Cultura . Sinais de que o Princípio Constitucional da Solidariedade começa a produzir mais efeitos. Finalmente !!! Segue a luta...
Concebido pelo Instituto Mara Gabrilli, o site reúne informações sobre 186 endereços prontos para receber qualquer tipo de espectador
Mara Gabrilli: "O guia de acessibilidade vai muito além da cultura". (Fernando Moraes)
“Quando
uma pessoa com deficiência pensa em se divertir, fica evidente que ela
está bem de saúde, que venceu dezenas de outras barreiras”.
São Paulo transformou-se nesta semana na primeira cidade brasileira provida de um Guia Online de Acessibilidade Cultural.
Concebido pelo Instituto Mara Gabrilli (IMG), em parceria com a
Secretaria de Cultura do Estado, trata-se de um site com informações
sobre 186 locais – casas de show, museus, teatros, cinemas e bares
preparados para receber qualquer tipo de público. As informações foram
colhidas entre janeiro e março de 2011.
Desde
o acidente automobilístico que lhe quebrou o pescoço, deixou-a sem fala
e respirando por aparelhos durante cinco meses, a deputada federal Mara
Gabrilli se destaca na defesa dos direitos dos 46,5 milhões de
brasileiros acometidos por algum tipo de deficiência. Ex-vereadora e
ex-secretária municipal da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida
de São Paulo, Mara Gabrilli comemora o novo projeto. “Esse trabalho não é
dedicado apenas às pessoas com deficiência”, explica a deputada. “É
importante para qualquer um que tenha mobilidade reduzida ou algum tipo
de dificuldade, inclusive idosos, gestantes e até pessoas com pés
engessados”.
Tetraplégica
há 17 anos, Mara Gabrilli tem o sorriso fácil de quem se dá bem com a
vida. “Qualquer um pode ser feliz”, garante a publicitária e psicóloga
que resolveu dedicar-se à política para reduzir os tormentos impostos a
pessoas com deficiência pela incompetência dos administradores dos
centros urbanos. “Deficientes são as cidades, que não estão prontas para
nos receber”, resume.
Esta
certeza inspirou a criação do guia de acessibilidade cultural, que Mara
considera muito mais que uma lista de endereços úteis. “O projeto
pioneiro é uma vitória que vai além do acesso à cultura”, observa.
“Quando uma pessoa com deficiência pensa em se divertir, fica evidente
que ela está bem de saúde, que venceu dezenas de outras barreiras”.
O
guia permite aos internautas adicionar outros locais já adaptados ou
comentar experiências vividas em um bar ou museu indicado na página, por
exemplo.
A
Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida de
São Paulo foi a primeira a surgir no país – hoje já passam de cem.
Autora de diversos projetos, Mara parece especialmente animada ao
comentar o que reserva às pessoas com deficiência 3% das moradias do
programa Minha Casa, Minha Vida e lhes garante prioridade na fila de
espera. “Essas pessoas têm que ser recompensadas por todo o descaso que
enfrentam”.
Não
escapam desses sinais de descaso sequer a sede dos três Poderes. Eleita
deputada federal em 2010, Mara descobriu antes da posse que o Congresso
não está preparado para receber deficientes físicos. Ela condicionou
seu discurso de estreia à supressão de dificuldades humilhantes. Como
não teria acesso à tribuna, seria obrigada a pronunciar-se sentada no
plenário.
A
desinformação sobre o universo dos deficientes começa pela presidência
do Senado. Num encontro recente com José Sarney, foi obrigada a ouvir o
seguinte palavrório: “Sou familiarizado com a causa, tenho três tios
mongoloides”. Sarney talvez já tenha aprendido um pouco mais sobre o
tema, mas não tomou nenhuma providência para tornar acessível a mesa
diretora do Congresso. “O espaço da escada é estreito. Nunca vou poder
presidir uma sessão, nem xavecar o presidente”, sorri. “Tenho que ficar
gritando lá de baixo”.
Se
o Brasil elegesse um presidente com deficiência, ele teria de entrar no
Planalto pelos fundos. A mais famosa rampa do país não é acessível a
cadeirantes. Ao criar o projeto, o arquiteto Oscar Niemeyer não imaginou
que, 50 anos mais tarde, também estaria imobilizado numa cadeira de
rodas – e, portanto, proibido de visitar desacompanhado o palácio que
concebeu.
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